Tricomas Urticantes e Laticíferos

TRICOMAS URTICANTES E LATICÍFEROS


Por: ¹Áureo Pires, ¹Juliana Moraes, ¹Juliana Rêgo, ¹Luíse Rocha, ¹Marco Menezes, ¹Rafael Rabello, ¹Zilda Ellen Neves, ¹Lazaro Benedito da Silva.
¹Universidade Federal da Bahia


TRICOMAS URTICANTES

Os tricomas urticantes são estruturas glandulares externas, e constituem os elementos de defesa da planta que os possuem contra fatores externos, como a herbivoria e agentes patogênicos. Quando tocado por algum organismo, o ápice do tricoma se rompe e a secreção é liberada, podendo causar dor, suave reação alérgica ou até mesmo a morte, dependendo das circunstâncias e da espécie do indivíduo que entrou em contato com o mesmo. Os tricomas urticantes têm sua origem numa célula da protoderme e é composto por uma única célula vesiculosa na base que se afina gradualmente em direção ao ápice, enquanto sua região intermediária lembra um capilar.

Tricoma urticante em folha. Fonte: Charles Krebs




Os tricomas urticantes podem secretar uma mistura de histamina, acetilcolina e serotonina que é altamente irritante à pele. Além das reações alérgicas, os extratos bruto e dialisado da secreção de algumas espécies, como por exemplo, as de Urtica ou urtiga (Urtica dioica L.), podem causar dor. Em algumas secreções já foram detectadas histamina, acetilcolina, 5-hidroxitriptamina. O mecanismo de secreção envolve o acúmulo da secreção que fica sob pressão na base, que posteriormente é transferida para a porção apical, que se rompe quando tocada e, por diferença de pressão do interior do tricoma e seu exterior, é liberada para o exterior.

Os tricomas urticantes possuem importante função ecológica já que podem ser encontrados em plantas insetívoras, auxiliando na captura e digestão da presa e assimilação de minerais. Eles também podem ser utilizados como mecanismo de defesa da planta, como na conhecida urtiga (Urtica dioica L.) . Eles também oferecem proteção contra fungos e bactérias.

Tricomas em planta insetívora. Fonte: Wagner Campelo


Na economia são muito importantes pois algumas espécies são utilizadas como anti-inflamatória, antiviral, e possuem característica hipoglicemiante e cardiovascular, devido às substâncias secretadas nos tricomas , ou seja, apresentam contribuição para a indústria farmacêutica. Também podem trazer benefícios para indústria de cosméticos e alimentar, por secretar óleos.





                                                Tricomas urticantes que causam coceira na urtiga. Disponível em: http://migre.me/wfdp1

Curiosidades:


Fonte: goo.gl/54BgLQ                               Fonte: goo.gl/xIzt4G


Apesar de ter uma semelhança morfológica, localização espacial no tecido e funções parecidas, as imagens tratam de estruturas diferentes. A imagem da superior representa a estrutura de tricomas, no tecido vegetal, que promove a proteção. Já a imagem inferior representa os pelos que tem como uma das funções a proteção da epiderme nos animais.



LATICÍFEROS

Os laticíferos são estruturas responsáveis pela produção do látex. Essas estruturas agrupam-se em duas categorias, as quais trataremos separadamente: os laticíferos não-articulados e os articulados. Os primeiros são compostos por células isoladas, que possuem crescimento indefinido, podendo diferenciar-se em estruturas tubulares que apresentam crescimento intrusivo. Os laticíferos articulados, por sua vez, consistem em fileiras de células dispostas em séries normalmente alongadas. Suas paredes terminais podem permanecer inteiras (articulados não-anastomosados), tornarem-se porosas ou desaparecerem completamente (articulados anastomosados). Neste último caso, o resultado final é uma estrutura multinucleada que se assemelha bastante com os laticíferos não-articulados, diferenciando-os apenas a partir de um estudo ontogenético.

A partir de especializações em determinados tipos de excreção, podendo estar em diversos órgãos dos vegetais, as glândulas lactíferas tem como função a cicatrização do vegetal. Tais estruturas excretam um líquido que funciona como uma membrana, protegendo a planta do meio externo. Outra forma de proteção, contra a herbivoria, é a produção de substâncias venenosas, para alguns organismos, realizada pelas referidas glândulas. 
Laticíferos não-articulados e laticíferos articulados vistos em microscopia óptica.


Secreção de látex por papoula (Papaveraceae)
Disponível em: http://migre.me/wf98C



















O látex é uma suspensão ou emulsão de pequenas partículas (óleos, resinas, ceras e borracha) dispersas num líquido que contém mucilagem, carboidratos, ácidos orgânicos, íons minerais e enzimas proteolíticas, podendo, ainda, ser encontrados açúcares e vitaminas. A composição química do látex varia nas espécies em que ocorre; a presença de certos materiais encontrados especificamente em certas plantas indica que o látex é o próprio citoplasma da célula laticífera. Tais células são limitadas por paredes celulósicas que podem estar impregnadas por suberina ou calose, substâncias que selam o sistema e impedem a comunicação com células subjacentes.

Nos diferentes órgãos os lactíferos acompanham frequentemente o tecido vascular. Lactíferos comumente se ramificam extensivamente, formando uma complexa rede de tubos através da planta. Na maioria das espécies, danos aos canais lactíferos resulta na abrupta liberação de látex. Todos os órgãos do vegetal que apresentam lactíferos, ao serem fragmentados, liberam látex de coloração e consistência variada.

Os laticíferos se mostram importantes para a economia, pois muitas espécies de vegetais tropicais apresentam borracha natural, no entanto, quase toda a produção mundial provém de uma espécie que tem sua origem no Brasil, Hevea brasiliensis L. Embora seja grande o número de espécies que liberam secreção de aspecto semelhante ao látex, somente algumas produzem quantidade e qualidade suficientes para exploração em bases econômicas. A utilização da borracha proveniente da seringueira é feita em diversos setores como, por exemplo: hospitalar/ farmacêutico, brinquedos, calçados, construção civil, maquinário agrícola e industrial e de autopeças.


Tratando-se de sua importância ecológica, os laticíferos se destacam porque os compostos químicos presentes no látex podem oferecer resistência a herbívoros através de toxicidade ou de efeitos antinutritivos ou, ainda, podem estar envolvidos na viscosidade que dificulta a locomoção de insetos herbívoros. Alguns autores atribuem o grande sucesso das plantas portadoras de laticíferos nos diversos ambientes às funções protetoras do látex contra predadores tais como insetos e microorganismos e como selante de ferimentos.






Curiosidades:


 Algumas espécies de abelha utilizam látex na construção de seus ninhos “Na Amazonia, Trigona cilipes que nidifica em formigueiros arborícolas, constroi longos tubos, principalmente de látex, muito pegajoso; em um ninho, em início de construção, que observamos na região da foz do rio Daraã, o tubo, construído de resinas muito pegajosas, tinha cerca de 1,20 m de comprimento, fixado em um galho de árvore anexo ao formigueiro. As formigas não conseguiam caminhar sobre o tubo, ficando aderidas a ele.”

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